quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

DENÚNCIA - Palácio de São Cristóvão caindo aos pedaços


O palácio no começo do séc. XX, quando foi casa da Câmara Federal

Prefácio: Pedimos a gentileza a Leandro Mairink para publicar o artigo abaixo, produzido com a contribuição da professora Maria Luiza dos Santos. Seguindo a tendência bajulatória e celebratória da historiografia oficial e escolar, poucos brasileiros sabem o que de fato aconteceu em 15 de novembro de 1889, dia da Proclamação da República – dizendo melhor, do Golpe Militar. Quanto aos assustadores e inacreditáveis fatos ocorridos nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 1889, é melhor se reportar ao livro Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi, de celebrado historiador José Murilo de Carvalho.

A nós, do campo das artes e da cultura, vale ressaltar alguns fatos. Após a expulsão sumária da família imperial do território brasileiro, o governo republicano iniciou uma série absolutamente ilegal de leilões do patrimônio dos palácios imperiais com o intuito indisfarçável de fazer tabula rasa do período monárquico e apagar a memória da população. Tesouros inestimáveis que, numa mudança de regime deveriam pertencer ao povo, foram vendidos sem dó nem piedade, como as roupas da família imperial, o mobiliário dos palácios e tesouros históricos, como a bata que D. Pedro II usou em sua coroação e o uniforme que vestia quando foi declarada sua maioridade.

Nesse contexto publicamos o artigo abaixo, que mostra o descaso que o governo republicano e todos os regimes e administrações subseqüentes tiverem com o antigo palácio dos imperadores da única monarquia da América do Sul.

Foreword: Leandro Mairink was kind enough to allow us to publish the following article, written with the aid of the teacher Maria Luiza dos Santos. Following the flattering and celebratory official History, few Brazilians know what really happened in November 15, 1889, the day of the Proclamation of the Republic – better say, of the Military Coup. As to the bizarre and frightening episodes of November 15, 16 and 17, 1889, it´s better reporting to Jose Murilo de Carvalho´s book Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi.

To us, working on the fields of art and culture, it’s worthy stressing some facts. After the hasty expulsion of the imperial family of Brazilian territory, the republican government started a series of absolutely illegal auctions of the imperial palaces´ assets, with the undisguisable goal of erasing people´s memory and the imperial legacy. Priceless treasures, which should belong to the nation in such a Regime change, were merciless sold, such as the imperial family´s wardobre, the imperial palaces´ furniture and historical treasures such as the clothes D. Pedro II wore in his Coronation and in the declaration of his becoming full aged.

Keeping an eye on such a background, we are publishing the following article, which shows the neglect with which the republican government and all the following regimes have been treating the former imperial palace of the only South American monarchy.



No dia 31 de outubro de 2009, a equipe do Escritório da Associação Causa Imperial no Rio de Janeiro fez uma visita ao Museu Nacional, para documentar o estado em que se encontra esse prédio histórico, que foi residência de D. João VI, de D. Pedro I e de D. Pedro II, até 1889.

O Palácio que abriga a maior instituição de Ciências Naturais da América Latina, assim como uma das mais importantes coleções de múmias do mundo, situa-se na Quinta da Boa Vista, no “Imperial Bairro de São Cristovão”, nome oficial reavivado pelo prefeito Cesar Maia.

Fotografando e analisando as instalações do Museu, verificou-se que além de totalmente descaracterizadas, não existem atrativos, e a má conservação não corresponde à sua importância histórica. O Museu é mal iluminado, com pouca segurança, infiltrações, cupins, e tantos outros problemas. As paredes e tetos de grande parte das salas eram decorados com afrescos, que hoje estão todos cobertos por 120 anos de “tintas” que tentam apagar nossa memória.

Apesar de tudo, foi possível fazer uma análise crítica e histórica do o palácio. O Jardim das Princesas, nome dado ao jardim no qual D.Leopoldina e D.Isabel - filhas de D.Pedro II - costumavam passar algum tempo do dia, possui um trabalho de mosaico com cacos de porcelana e conchas, possivelmente feitos pela Imperatriz D.Thereza Cristina, sendo cercado por grades que levam a Coroa Imperial junto à sigla P2º (Pedro II). Hoje o jardim se encontra totalmente abandonado e descaracterizado, e os trabalhos em mosaico estão se perdendo. Por dentro do palácio, que possui todas as suas janelas com sacadas, foi possível descobrir, entre as sacadas que dão vista para o Jardim das Princesas, uma que é única e possui características monumentais, duas colunas com larga circunferência além de um belo trabalho de estuque simbolizando os dragões dos Bragança, a coroa Imperial e novamente a sigla P II. Deduziu-se então que seria essa sacada um ponto de onde D.Pedro II observava suas filhas nos seus momentos de lazer no Jardim construído especialmente para elas.

No lance que segue abaixo do Jardim das Princesas, existem duas construções que parecem ser oratórios: um deles imita rochas e raízes de árvores que se fixaram nas paredes e o outro imita uma gruta com Estalactites. Essas duas construções ficam localizadas num ponto impressionante de onde é possível ver grande parte da Quinta da Boa Vista (a parte de cima, que é o Jardim das Princesas possui, uma espécie de píer). Concluiu-se que estes espaços seriam oratórios, pelo fato de seu formato lembrar um altar-mor e no seu interior existirem pequenas cavidades nas paredes onde poderia ser colocadas velas e ainda cavidades onde poderiam ser colocadas imagens.

Nos fundos do Palácio foi encontrado um túnel, cujo destino não é possível saber. Uma informação que não se encontra em livros é sobre o sistema sanitário da residência imperial. Na lateral oposta à do Jardim das Princesas, ainda existe a fossa utilizada na época, possuindo suas paredes lacradas e cerca de 4 metros de profundidade, além de estar localizada numa área que não possui rios ou lagos, evitando a contaminação fluvial e dos lençóis freáticos.

Existem ainda muitas outras partes do Museu que não são abertas à visitação, onde funcionam também os setores de graduação da UFRJ e que guardam relíquias da nossa história, das quais um exemplo curioso é uma sala do torreão esquerdo da fachada do palácio, que ainda possui vitrais riquíssimos da época de nossos imperadores, e que possivelmente foi uma capela.

As demais salas do palácio que ainda são abertas à visitação não possuem suas características originais preservadas, mas há alguns anos foi proposto um plano de restauração do Museu. O projeto foi iniciado e as pinturas originais descobertas, e por isso é possível ver alguns pequenos exemplos das mesmas, mas por falta de verba o plano foi paralisado. A sala da Imperatriz Thereza Cristina e seu oratório ainda possuem estuques e pinturas do teto originais e abrigam a coleção de múmias amazônicas. Já a sala do Trono e Sala dos Diplomatas são abertas para exposições temporárias e, mesmo em estado precário, ainda possuem as pinturas da época da coroação de D. Pedro II, pinturas de grande importância por serem em trompe-l’oeil gris (uma técnica de pintura que imita relevos) e ainda por utilizarem adesivos que ajudam na ilusão de que tudo ali é estuque, mas na verdade são pinturas 3D.

O visitante comum do Museu dificilmente repara nesses detalhes. Contudo, um pesquisador mais interessado poderia passar anos pesquisando a história do Palácio de São Cristovão e da Quinta da Boa Vista que iria descobrir coisas surpreendentes que acabaram ficando perdidas no tempo. Por essa razão, o escritório da Causa Imperial no Rio de Janeiro resolveu fazer esta visita ao atual Museu Nacional em memória ao Império do Brasil, findo há 120 anos, para que assim todos possam constatar quais os frutos estamos colhendo em conseqüência do golpe militar de 1889.

Imagens de Leandro Mairink

Vista do Palácio a partir dos jardins




Escadaria principal fechada devido às chuvas
Placa indicando a função original da sala jogada em um canto.

As folhas de ouroe stão de desbrendendo e oxidando.



Afresco de teto na sala do trono. Assemléia dos deuses olímpicos. 1860

Os medalhões do lado da pintura estão quebrados




Pintura em trompe l'oeil


Pintura em trompe l'oeil


Brasão da casa real portuguesa de Bragança. Sua presença ali indica que foi possivelmente produto de alguma reforma durante o período de d. João VI


Teto da sala dos diplomatas, mantido na maior ecuridão.





Detalhe do teto


Detalhe do teto


Sacada que não dá para lugar nenhum. Alguém pode explicar?


Mofo, descamação da tinta e infiltrações num dos pátios.


Alguém pode explicar o que esses telhados estão fazendo aí? Será possível que o palácio de São Cristóvão não é tombado?


Mias tinta descamando. Para quem não sabe, o uso de pintura em estruturas arquitetônicas não é um hábito puramente estético, mas de conservação. A tinta evita a corrosão do reboco e do concreto, permitindo uma maior durabilidade da estrutura. Mesmo construções de pedra que não são constantemente conservadas ou levam pintura estão fadadas a ruir: cristais de sal se formam dentro dos poros e fendas e crescem, até chegar ao ponto de "implodir" a pedra ou tijolo.


???????????????



Os jardins estão abandonados


Mais infiltrações






O sumidouro do palácio. O sumidouro impedia a liberação de mau cheiro e pragas no ar, tornando o palácio extremamente moderno em relação à higiene


Tunel do qual não se sabe a origem


Fachada do palácio com a porta para o túnel









500 mil reais de reforma para isso??




Capela dos aposentos da última imperatriz, d. Thereza Christina





Teto dos aposentos da imperatriz


Uma das poucas salas com o estuco original






Jardim das princesas.




Arame farpado circulando o jardim das princesas. O Arame foi colocado para prevenir o roubo do sistema de ar condicionado que refrigera as salas pertencentes à UFRJ










A falta de conservação.










Decoração dos jardins. Barão do Rio Branco?






Sacada que dá para o jardim das princesas



13 comentários:

  1. ridiculo o descaso do poder públicoaos patrimonios historicos no brasil,em campo grande,mato grosso do sul els deixam demolir prédios deste estilo arquitetonico

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  2. Um dos prédios históricos mais importantes do país!!! Completamente vandalizado. Construam um novo museu navional contratem arquiteto visionário e gastem um dinheirão com ele, mas restaurem o velho Paço de São Cristovão.

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  3. O Palácio São Cristóvão é o maior patrimônio cultural da memória brasileira e não pode ser abandonado ou saqueado.
    Que os brasileiros acordem para a preservãção de sua cultura, antes que seja tarde.

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  4. Fui ao Palácio de São Cristovão no dia 09-10-11,e fiquei muito triste em ver um pedaço importante de nossa história abandonada.Partes do museu "restauradas" e descaracterizadas,mofo,cheiro ruím em certas salas,muitas salas fechadas e má conservação dos objetos.Muitas pessoas que por lá passavam nem sabiam que aquele lugar foi morada da Família Real pois faltavam imformações à respeito da história local.Uma lástima!!!

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  5. muitos dos funcionarios, também não sabem que ali morou a familia imperial Brasileira. Uma vergonha dentre outras, a denegrir o Brasil.

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  6. Esta construção histórica é uma das três mais importantes do país, a UFRRJ não tem condições de manter o prédio. o Paço Leopoldina, onde hoje é o CEFET, fazia fonteira com os jardins da Quinta, era possível se avistarem, e ela vinha, a pé, visitar os pais. Este histórico palacete foi impiedosamente demolido nos anos 30. o Paço de São Cristóvão precisa ser preservado, um incêndio acaba com ele e com toda a preciosa coleção que ele abriga.

    Vai seguir o mesmo destino do MAM e do Butantã, do Rova de Madagáscar!

    Tirem a Pós-Graduação da UFRJ dali, construam instalação dignas para abrigá-la na própria Quinta, façam um novo prédio para a coleção e biblioteca do Museu Nacional em outro lugar, e restaurem o velho casarão. Existe tanto acervo nas reservas técnicas do Museu Histórico Nacional e do Museu Imperial de Petrópolis, levem para lá.

    Não é possível que não haja verba para restaurar esse valioso legado arquitetônico e histórico!

    Qunando eu era criança já estava caindo ao pedaços, estou velho e nada mudou!!! Gastam fortunas com a COPA e OLIMPÍADAS e não sobrou nada para o velho paço de Pedro II. Ele o queria bem simples e despojado, passou 46 anos recusando aumento na sua dotação, suas filhas chamavam o prédio de "convento", era sóbrio e sem ostentação de propósito.

    Gastem dinheiro agora, salvem o paço que D. João VI ganhou de presente!

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  7. é muito triste olhar nosso passado rico em histórias, sendo destruído pela ignorância do presente.

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  8. Não podíamos ter um descaso tão grande com o nosso "Palácio de Versalhes". Nenhum país sério do mundo teria tamanho desprezo pela sua história. Desprezo este que é herança que recebemos dos golpistas republicanos do maldito dia 15 de novembro de 1889. Com tanta corrupção e roubalheira nestes últimos 124 anos, tenho fé em Deus que mais cedo ou tarde veremos a Restauração!

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  9. Depois ainda querem gastar milhões com Museu do Amanhã... É um absurdo descaso com o Palácio de São Cristóvão.

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  10. Uma vergonha o descanso desse patrimônio histórico brasileiro!
    O Brasil tem de volta para o único sistema que deu certo aqui, a Monarquia Parlamentarista a república afundou o Brasil...

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  11. É muito triste ver como haviam tantas previsões para que um desastre acabasse por destruir o museu e sua preciosa coleção. Infelizmente, a verba governamental não chegou a tempo (eles jamais conseguem fazer pontualmente nada relacionado à preservação da cultura) e há menos de uma semana, as chamas devoraram milhares de anos de história. Vi aqui depoimentos de pessoas que diziam que o quadro de negligência do governo em relação ao Palácio de São Cristovão remonta há muitas décadas. Até quando o Brasil permitirá que sua memória seja negligenciada? Quantos museus ainda necessitam ser queimados para tanto? Uma triste, tenebrosa realidade.

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    1. Engano seu. A verba sempre chegou, mas era desviada para os diretórios e coletivos de um certo partido que domina as universidades do Rio de Janeiro, mas nada faz pelo patrimônio cultural da cidade. O PSOL acabou com o Canecão e é responsável pelo incêndio que destruiu o Paço de São Cristóvão. Malditos sejam.

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