terça-feira, 28 de abril de 2009

Filmes sobre Maliévitch!!

TRIO INOVADOR
A cruz, o quadrado e o círculo negros resumem a proposta radical de Maliévitch

Vinculada à exposição Virada russa, mostra de filmes em dvd revela como a arte dialogou com as diretrizes da revolução comunista.


VIRADA RUSSA: A VANGUARDA NO CINEMA


Hoje, às 18h30, Aelita (de Yakov Protazanov), e, às 20h30, Kazimir Maliévitch e K. Maliévitch — Transfiguração, no CCBB (SCES, Tc. 2, 3310-7087). Até 3 de maio. Entrada franca. Classificação indicativa livre.



Impossível dissociar filmes de quadros quando o tema é a mostra Virada Russa: A Vanguarda no Cinema, a ser exibida, a partir de hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Depois da chegada à capital de parte do acervo de meio milhão de obras saídas do Museu Estatal Russo de São Petersburgo, o bloco de filmes selecionados pelo curador Rodolfo Athayde promete valer como complemento do exame da arte moderna peculiar que brotou em meio à Revolução Russa (1917). “A mostra tem duas linhas. A primeira é sobre a vida e a obra dos artistas da vanguarda russa. A outra consiste no desdobramento da ideia de arte de vanguarda no cinema”, revela o curador.

Dois médias-metragens dedicados ao artista Kazimir Maliévitch prometem clarear conceitos da produção do pintor. K. Maliévitch — Transfiguração (2005) é experiência sensorial, com assimilação tortuosa da sucessão de closes nas obras do criador que operou no movimento Suprematismo (amparado em formas geométricas), enquanto Kazimir Maliévitch (1988) traz raros depoimentos de críticos e pesquisadores soviéticos.
Obras surrealistas e geométricas se alinham à análise das abstrações de companheiros de Wasily Kandinski, em outro média integrado ao painel de filmes no CCBB. Em Vanguarda russa — Um romance com a revolução (2000), o reflexo da convulsão sociopolítica da Rússia nas artes é decifrada por responsável pela reserva técnica de museu, à época da revolução, Nicolau Punin. Tendo interagido com Kazimir Malevich, Pável Filónov e Vladimir Tátlin, Punin se tornou figura importante para reconstituir os limites criativos que abalaram artistas contemporâneos ao regime de Stalin.
Atração de abertura da mostra Virada Russa: A Vanguarda no Cinema, Aelita — A rainha de Marte, originada a partir de conto de Alexei Tolstoi, demarca bem o espírito avançado da veia experimental exprimida pelos cineastas russos. Pioneiro da imersão no terreno da ficção científica, Yakov Protazanov comandou, em 1924, quase duas horas de fita dotada de inesperado humor. Moscovita, o engenheiro LOS, na trama, fica tão obcecado pela rainha de Marte que passa a se empenhar pela construção de espaçonave que possibilite a consumação do amor.
Com proporções sinfônicas, Um homem com uma câmera (de Dziga Vertov, 1929), não à toa, foi projetado com trilha sonora composta pela Orquestra Alloy, mas com indicações precisas do diretor que desenvolveu conceitos cinematográficos como o cinema-olho e o cinema verdade. Formado pelo Instituto Psiconeurológico da Universidade de Moscou, Vertov, em Um homem com uma câmera, aposta no registro puro (mas não livre da edição, claro) do cotidiano de Moscou, visitada ao longo de um dia.
Igualmente enfático, Câmera olho (1924) atesta, dadas as ideias avançadas, os entraves para a assimilação (pelo caráter inovador). No filme, há saudação do Dia Internacional da Cooperativa e jovens pioneiros do regime soviético mostram o valor das ações, isso além de cenas pouco claras, nas quais, por exemplo, encadeia-se a visita de um elefante a Moscou. Com direito até a uso de animação, o filme ainda registra auxílio prestado por leninistas a uma viúva pobre e, impressiona, ao expor mazelas como “o despertar de um viciado em cocaína” e as condições de sanatórios de tuberculosos e a situação de loucos, no início do século 20.
Ricardo Daehn

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