quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

( Diplomação 2012 ) PANORÂMICAS – por Léo Tavares



Minha pesquisa se origina de um duplo percurso: o reconhecimento das palavras como imagens e a consolidação das imagens como discursos. A partir da investigação das qualidades visuais que se manifestam nos códigos linguísticos, iniciei uma série de trabalhos artísticos intitulada Pretextos Para Imagens Internas. As primeiras obras que fazem parte deste corpo de trabalho podem ser vistas como incursões experimentais na interrelação palavra/imagem; na medida em que as etapas da criação artística foram sendo alimentadas por estudos e reflexões teóricas, o trabalho final de Diplomação do curso de Bacharelado em Artes Plásticas começou a ganhar forma.



Um texto pode surgir de várias formas. Tessitura semântica, na qual os significados habitam o invólucro da representação gráfica ou icônica, o texto entrelaça as ideias na conformação da linguagem, e, dessa forma, pode tanto comunicar - em um sentido mais direto de informação em que o outro capta, de imediato, ou de maneira mais instantânea, o conteúdo de uma mensagem – quanto pode expressar, na latência de subtextos e entrelinhas, por meio de estruturas metafóricas, ou simbólicas, significados mais abrangentes, ou seja, que estão além do próprio texto, escondidos por trás de suas conotações primeiras, nos vãos dos seus sintagmas, expandidos para fora do seu território formal.
O processo poético, embebido pela pesquisa deste universo intertextual, assim como por um desejo de aprofundamento na dupla experiência de olhar e ler, culminou no conjunto de obras intitulado Panorâmicas, que apresento como Trabalho de Conclusão de Curso. Cada obra que faz parte desta série funciona como uma descrição de determinadas paisagens cujas composições remetem aos Panoramas realizados no séc. XIX, constituindo-se também como alusões às fotografias aéreas e ao levantamento topográfico de uma área; em outros momentos, a composição diz respeito às plantas de construções. Além dos índices de bens imóveis, há ainda incursões de cenas, temporalidades inseridas em alguns destes cenários, como, por exemplo, a presença de seres que habitam um lugar de modo efêmero.


A criação artística considera o olhar do outro para que se estabeleça como tal, e constituindo-se como transposição de ideias, vontades e emoções para o mundo da materialidade, aproxima-se do processo de construção da escrita: os pensamentos são modelados em palavras que, juntas, formam orações, que por sua vez formam períodos, que, por fim, revelam discursos. A significação das coisas só pode ser transmitida com a mediação da linguagem, e a arte participa do desejo humano de transmitir e compreender sentidos. Podemos dizer que a arte é também escrita, e que, por conseguinte, uma imagem criada é também um texto. A intertextualidade promove a ampliação da noção de texto para além da forma analítico-discursiva: a concepção de texto abandona a estrutura monomodal de escrita linear por uma estrutura multimodal, multimídia, que compreende a espacialidade além da temporalidade, as marcas tipográficas, as qualidades plásticas dos códigos linguísticos, assim como ultrapassa a conformação da página, deslocando-se também para a valorização de outros elementos para a construção de sentido.



2 comentários:

  1. Como sempre Leonardo prima pela maestria com a qual ele domina a estética, as letras e a simplicidade pura que deve ser a arte.

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