Minha pesquisa se
origina de um duplo percurso: o reconhecimento das palavras como
imagens e a consolidação das imagens como discursos. A partir da
investigação das qualidades visuais que se manifestam nos códigos
linguísticos, iniciei uma série de trabalhos artísticos intitulada
Pretextos
Para Imagens Internas.
As primeiras obras que fazem parte deste corpo de trabalho podem ser
vistas como incursões experimentais na interrelação
palavra/imagem; na medida em que as etapas da criação artística
foram sendo alimentadas por estudos e reflexões teóricas, o
trabalho final de Diplomação do curso de Bacharelado em Artes
Plásticas começou a ganhar forma.
Um texto pode surgir
de várias formas. Tessitura semântica, na qual os significados
habitam o invólucro da representação gráfica ou icônica, o texto
entrelaça as ideias na conformação da linguagem, e, dessa forma,
pode tanto comunicar - em um sentido mais direto de informação em
que o outro capta, de imediato, ou de maneira mais instantânea, o
conteúdo de uma mensagem – quanto pode expressar, na latência de
subtextos e entrelinhas, por meio de estruturas metafóricas, ou
simbólicas, significados mais abrangentes, ou seja, que estão além
do próprio texto, escondidos por trás de suas conotações
primeiras, nos vãos dos seus sintagmas, expandidos para fora do seu
território formal.
O processo poético,
embebido pela pesquisa deste universo intertextual, assim como por um
desejo de aprofundamento na dupla experiência de olhar e ler,
culminou no conjunto de obras intitulado Panorâmicas,
que
apresento como Trabalho de Conclusão de Curso. Cada obra que faz
parte desta série funciona como uma descrição de determinadas
paisagens cujas composições remetem aos Panoramas realizados no
séc. XIX, constituindo-se também como alusões às fotografias
aéreas e ao levantamento topográfico de uma área; em outros
momentos, a composição diz respeito às plantas de construções.
Além dos índices de bens imóveis, há ainda incursões de cenas,
temporalidades inseridas em alguns destes cenários,
como, por exemplo, a presença de seres que habitam um lugar de modo
efêmero.
A criação
artística considera o olhar do outro para que se estabeleça como
tal, e constituindo-se como transposição de ideias, vontades e
emoções para o mundo da materialidade, aproxima-se do processo de
construção da escrita: os pensamentos são modelados em palavras
que, juntas, formam orações, que por sua vez formam períodos, que,
por fim, revelam discursos. A significação das coisas só pode ser
transmitida com a mediação da linguagem, e a arte participa do
desejo humano de transmitir e compreender sentidos. Podemos dizer que
a arte é também escrita, e que, por conseguinte, uma imagem criada
é também um texto. A intertextualidade promove a ampliação da
noção de texto para além da forma analítico-discursiva: a
concepção de texto abandona a estrutura monomodal de escrita linear
por uma estrutura multimodal, multimídia, que compreende a
espacialidade além da temporalidade, as marcas tipográficas, as
qualidades plásticas dos códigos linguísticos, assim como
ultrapassa a conformação da página, deslocando-se também para a
valorização de outros elementos para a construção de sentido.
Como sempre Leonardo prima pela maestria com a qual ele domina a estética, as letras e a simplicidade pura que deve ser a arte.
ResponderExcluirmaravilhoso"!
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