quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Aula de Inquietação 2º2011

AULA DA INQUIETAÇÃO - 31/08/2011


Criatividade, diversão e saúde para mudar o mundo
Luiz Filipe Barcelos/UnB Agência

Nicolas Berh e Juliano Cazarré inquietam cerca de dois mil alunos que lotaram o Teatro de Arena na sexta edição do evento de boas vindas
João Campos - Da Secretaria de Comunicação da UnB


“Inquietai-vos, inquietai-vos!”, bradou Nicolas Behr logo no início da Aula de Inquietação, na manhã desta quarta-feira. Ao lado do ator Juliano Cazarré, o poeta marginal comandou a sexta edição do evento de boas vindas aos calouros, que reuniu cerca de dois mil estudantes e curiosos no Teatro de Arena da Universidade de Brasília.

Munida de um inconformismo intelectual típico dos artistas, a dupla dividiu experiências, conselhos e reflexões sobre o poder da criatividade e do amor na transformação do mundo, os caminhos para buscar um corpo e uma mente saudáveis e as ameaças de se tornar um burocrata na capital do país.

Apontado como um dos poetas que melhor traduz Brasília em versos, Behr abriu o discurso arrancando aplausos da platéia ao citar os recentes ataques contra a democracia no Congresso. “O que ocorreu ontem (rejeição do pedido de cassação da deputada Jaqueline Roriz) é um absurdo. Os caras estão brincando”, criticou.

No ritmo caótico de seus pensamentos, Nicolas destacou a aula como uma celebração à democracia. “Juventude não combina com conformismo”, apontou. “E hoje somos privilegiados por estarmos aqui, pois nenhum regime autoritário, seja de direita ou de esquerda, quer a inquietação”, completou o cuiabano que chegou em Brasília em 1974.

Autor de centenas de poemas sobre a cidade planejada, Behr falou aos jovens sobre a sua crença na possibilidade e na necessidade de mudar o mundo. E para isso, o poeta de óculos de grau e madeixas brancas tem como principal ferramenta a criatividade. “É preciso resistir à tentação da violência no momento de agir”, disse.

Alexandra Martins/UnB Agência
Behr: “É preciso resistir à tentação da violência no momento de agir”

Visivelmente ansioso nos primeiros minutos da palestra, Nicolas advertiu os presentes sobre a diferença entre a inquietação e a ansiedade. “Muitas pessoas confundem as duas”, alertou. “Mas a primeira traz resultados e a segunda, paralisia”, afirmou o poeta, mais à vontade do meio para o fim da conversa com os estudantes.

Apaixonado por Brasília – apesar de cuiabano, ele se considera candango – Nicolas ainda deu conselhos aos jovens que ocupavam a arquibancada e o chão da arena. “Obrigação é uma palavra chata, mas vocês não podem sair da UnB sem conhecerem a vida de Darcy Ribeiro. É graças à inquietação dele que estamos aqui”.

FELICIDADE – A primeira manifestação da inquietude do ator Juliano Cazarré veio antes mesmo do início de sua palestra. O ator que traz no currículo filmes como Tropa de Elite e A Festa da Menina Morta fez questão de deixar a mesa de abertura da aula para dizer aos jovens recém ingressados na UnB: “Divirtam-se!”.

Inspirado nos bons professores que teve durante e o curso de graduação em Artes Cênicas na UnB, Cazarré destacou a universidade como um espaço propício à mudança. “Desfrutem dos espaços do campus e da diversidade de conhecimento que está à disposição de vocês para se reinventarem”, aconselhou.

Emília Silberstein/UnB Agência
Cazarré ressaltou a importância da Universidade como espaço de transformação

O ator gaúcho que cresceu em Brasília – ele trazia a tiracolo uma cuia de chimarrão – também falou sobre a importância de exercitar a ética e a cidadania nas pequenas ações do dia-a-dia. “Criticamos os políticos, mas não nos damos conta que ultrapassamos pela direita, roubamos uma caneta no trabalho, desperdiçamos comida”.

Segundo Cazarré, a mudança começa por cada um. “Isso é atitude. Isso é inquietação”, afirmou. Questionado sobre como ele vê a comparação entre as manifestações da juventude pela internet comparadas com as ações de rua dos jovens das décadas 60 e 70, Juliano convidou os jovens a viver o presente. “Os tempos mudaram. É preciso deixar o saudosismo para viver o agora”.

Apesar da recente participação como o Ismael na novela Insensato Coração, da Rede Globo, o ator está longe do estereótipo de celebridade. Inspirado no filósofo grego Epícuro de Samos, Juliano falou sobre a importância da busca do prazer que não vem de uma bebedeira ou das drogas, mas de uma paz de espírito e de um corpo saudável.

“Respirem, tomem bastante água, tenham uma alimentação saudável e pratiquem esportes”, aconselhou o ator que atualmente vive no Rio de Janeiro com a esposa e o filho. Uma vida cultural ativa, boa literatura e música foram outras dicas do artista. “Sejam pessoas do bem. No fundo, o que o mundo preciosa é de mais amor”.

HOMENAGEM – A sexta edição da Aula da Inquietação foi dedicada a três personagens marcantes da UnB durante a ditadura militar: Ieda Santos Delgado, Paulo de Tarso Celestino e Honestino Monteiro Guimarães. Perseguidos durante o regime que durou 20 anos no Brasil, os três foram assassinados por militar pela retomada da democracia no país.

“Esses personagens abriram horizontes de justiça e liberdade para todos nós”, destacou o reitor José Geraldo de Sousa Junior. O representante da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Gilney Viana, também elogiou o resgate da memória do trio. “Nós podemos fazer essa Aula da Inquietação porque eles se inquietaram no passado”.

Luiz Filipe Barcelo/UnB Agência
Estudantes de arte produziram painel inspirado na repressão durante a ditadura

Como de costume, a aula também contou coma participação dos alunos do Instituo de Artes da UnB, que produziram ao vivo um painel inspirado na repressão durante a ditadura. “Esses personagens nos inspiram a buscar a inquietação que vem de idéeas e ações novas para mudar a realidade”, afirmou a estudante de pós-graduação do IdA, Daiara Figueroa.

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